Concretizar algo é terminar o que se começou. Parece simples mas não é, sobretudo quando se trata de coisas importantes e que requerem um processo de transformação.
Conseguir terminar o que se começa é, talvez, das características mais importantes de quem quer crescer em alguma área da sua vida pois é apenas no término de algo que todo o caminho até lá se define. O ato de terminar não é fechado em si, não tem significado em si, ele é importante porque dá significado a tudo o que foi feito para chegar até ele.
Este é o ponto-chave da questão da concretização. Terminar algo traz consigo algo fortemente libertador mas é, também, altamente comprometedor e definidor.
É comum ver pessoas que chegam quase ao final de um projeto, de um objetivo e, simplesmente, desistem. Deixam de ter força para continuar e deixam por ali. O mais estranho, é que este fenómeno acontece frequentemente com o objetivo quase cumprido. É deixar de treinar artes marciais quando se chega ao cinto castanho, a um ou dois cintos do cinto preto.
As pessoas que não concretizam as suas metas caem no erro de achar que a lição está aprendida e que aquilo que lhes falta não fará assim tanta diferença, pelo que a presente desmotivação que sentem até se justifica e, por tudo isso, mais vale parar já.
Não podiam estar mais enganados.
Primeiro, a maioria das lições só se aprendem depois de terminar o que se tem de terminar porque, como disse acima, é o fecho do percurso que define os contornos do caminho percorrido. É esse momento que vai definir qual a medida com que vamos medir o esforço que nos trouxe até ali. É, apenas, terminando, que podemos compreender o que fizemos. Sem o fecho, as lições ficam a pairar na indeterminação e na indefinição.
É diferente sermos a pessoa que "quase terminou" algo ou a pessoa que conquistou algo. O "quase", para além de não nos trazer uma aprendizagem clara, deixa-nos o rótulo daquilo que é: alguém que é "quase" capaz. Este ponto é especialmente importante na nossa narrativa pessoal. A história que vamos contar daí em diante é bem diferente em ambos os casos.
Terminar algo dá-nos credibilidade. É mais fácil confiar em alguém que leva os seus projetos até ao fim do que alguém que "quase os leva até ao fim". Parece evidente, não parece? Então porque razão há tanta resistência em "terminar quando estiver terminado"?
Porque terminar implica determinar e isto implica um compromisso. Quando terminamos algo, estamos a definir uma lição e a limitar a experiência a contornos específicos. Isto assusta quem não gosta de se auto-limitar e tem fantasias de grandeza. Fazer exame para cinto preto define-nos como cinto preto, define a nossa bitola, define a responsabilidade, define o final de um caminho e o final de um sonho.
Terminar algo implica passar por uma fase de luto e ninguém gosta de ver morrer o que, outrora, fora um sonho. Ver o final a chegar é percebermos o contraste que existe entre o que esperávamos de nós e aquilo que conseguimos. Implica, também, fechar uma parte de nós e entrar no vazio. É como acabar o curso: um misto entre alívio e desespero. E agora?
É por tudo isto que muita gente tem receio em concretizar os seus objetivos, os seus sonhos ou os seus projetos. É preferível ficarem idealizados e intocáveis porque o seu término implica a minha mudança e eu não gosto de mudar. É humano mas é, também, uma armadilha.
A minha primeira grande lição em concretizar algo foi quando fiz o meu exame final de 12º ano, o Bachalauréat, acabado de sair de um traumatismo craniano. Na verdade, o meu neurologista desaconselhou-me a fazer o exame porque a minha capacidade cognitiva estava reduzida e a minha resistência física diminuta. Lembro-me de ter adormecido em pleno exame e, acima de tudo, de não conseguir processar um raciocínio eficaz em resposta nenhuma. Senti que tinha de concretizar isto e neste tempo, assim foi. Terminei com um enorme esforço esta bateria de exames e passei com 10,02.
Por ter concretizado, o meu percurso até lá definiu-se e encheu-me de vontade para continuar.
Tive muitos outros exemplos de concretização na minha vida. Desde o meu exame para cinto preto, o curso superior feito quase por obrigação, o exame à ordem dos advogados, a abertura das academias, o casamento, etc. Tudo isto, são momentos-chave de concretizações que, antes de acontecerem, assustam; depois de se concretizarem, elevam-nos.
É, por isto, fundamental exercer a disciplina pessoal de sermos capazes de concretizar os nossos objetivos, de ir até ao fim, de terminar quando tiver terminado. A lição está sempre do lado de lá da tábua partida, nunca antes. Por mais que consigamos compreender como é que uma tábua se parte, de sabermos a técnica, de termos a atitude necessária, a verdade é que ela só está partida depois de a termos partido. A verdade é que só vamos compreender como é que a partimos depois de parti-la. Até lá, só estaremos a idealizar o resultado.
Sermos "concretizadores" é estarmos confortáveis com a imperfeição, com a incompletude e com as nossas próprias limitações. Ao contrário do que as pessoas pensam, não é preciso sermos excepcionais para conquistarmos os nossos sonhos, precisamos, sim, é de ser humildes e vulneráveis para ir concretizando os nossos pequenos e atrapalhados objetivos. Os sonhos são a soma de todas estas pequenas concretizações. Já a frustração é a soma de todas as faltas de concretizações que fomos somando.
No fundo, se não concretizarmos os nossos objetivos, vamos apenas andar entre objetivos. Em vez de termos um caminho vertical, em que uma conquista constrói sobre a outra, vamos andar de uma quase lição em outra quase lição, horizontalmente, sem nunca elevar, nem nunca progredirmos. A este movimento, chama-se estagnação, ainda que aparente ser um tipo de evolução.
Portanto, perante um objetivo, há que aceitar que se termina, apenas, quando se tiver terminado. Só assim poderemos absorver as lições e evoluir sobre elas, logo, crescer. Não há que ter medo de concretizar com menos brio, há que ter medo de não aprender o que é preciso aprender para se poder continuar.
Actionables:
- tenha os seus objetivos definidos
- ponha metas concretas
- cumpra com as suas metas
- aceite o resultado que atingir
- troque a vontade de chegar à excelência por uma vontade em concretizar objetivos
Commentaires