Todos fomos domesticados em criança. Ainda o somos, diariamente. Pela família, pela sociedade, pelos amigos, enfim, por tudo.
A domesticação é frequentemente demonizada. “Ah, as crianças são tão criativas, a sociedade é que as obriga a pintar dentro das linhas”.
As crianças pintam fora das linhas porque não têm proprioceção para pintarem dentro delas, não é porque são o Van Gogh.
A domesticação é fundamental e desejável.
Amadurecer não é voltar à infância. Não é o retorno ao estado naive e ingénuo da vida.
Entre outras coisas, amadurecer é revisitar a nossa domesticação e largar as regras que não nos prejudicam na sua fundação. É largar aquelas verdades que nos foram passadas e que, afinal, não são assim tão verdade. É assumir as regras que queremos para nós próprios. É, no fundo, aceitar a nossa própria domesticação, voluntária, evolutiva e atual.
Está nas nossas mãos a capacidade de reescrever as linhas que contam a nossa história, a história que nos contamos sobre quem somos, sobre o que
somos capazes e sobre o que podemos vir a ser.
A domesticação serve o seu propósito mas quando fere o nosso presente, merece ser reescrita.
Acima de tudo, amadurecer não é apagar o caminho até aqui. É, antes, inclui-lo na narrativa que nos faz sentido para continuarmos a crescer.
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